Uau! Assim que publiquei aqui uma das
perguntas que a Giovana me fez, com a resposta, choveram e-mails a respeito do assunto "cantoras brasileiras" e também "MPB"...
Não vou reproduzir o conteúdo das cartinhas, mas posso sintetizar, já que são parecidas... A maioria me perguntou qual é o meu estilo (pergunta que sempre me fazem, e sobre a qual já falei bastante por aqui), e também sobre ser uma cantora brasileira (eu respondi a Giovana que "Acho que sou diferente das cantoras brasileiras, e sou uma delas ", e muita gente não entendeu o que eu quis dizer)...
Vejamos... Quanto à MPB, sou daquela corrente que considera que a música brasileira que cai no gosto do povo - ainda que não caia no gosto das grandes massas - pode ser chamada de MPB. Mas existe a corrente que considera MPB aquela música feita no formato antigo, cantada como bossa-nova, com arranjos que inspiraram o jazz, etc, etc, etc. Não gosto de aprofundar a discussão. Acho que o tempo dirá. A crítica especializada, as premiações, os próprios artistas devem chegar a um consenso sobre isso mais cedo ou mais tarde. Prefiro não me prender a nomenclaturas, rótulos, nem nada. Quem quiser me chamar de MPB, de
darkwave, de
indie, de neo-gótica, de
pop rock e até de
new age (porque já me classificaram em todos esses estilos), pode ficar à vontade. Eu prefiro passar meu tempo fazendo música ao invés de tentar encaixar meu trabalho em uma definição linguística.
Já com relação ao que eu disse sobre as cantoras brasileiras, sobre ser diferente mas ainda assim ser uma cantora brasileira, vou tentar explicar (explicações não são o meu forte, já aviso).
Não me encaixo em nenhuma das duas categorias que ironizei aqui: "as que cantam grave" e "as que cantam agudo". Primeiro porque sei que sou
mezzo soprano (~~), o que, para quem não sabe, é uma voz que não é grave nem aguda para cantar.
Quando canto, gosto de usar a zona de conforto da minha voz a maior parte do tempo, e sei que ela soa aveludada, mas não chega a ser grave, e que, em certos momentos, é quase aguda, mas nunca chega a ser uma voz de cotovia, porque não alcanço notas altas (Já alcancei quando treinava canto lírico. Mas canto lírico é como um esporte: exige treino e cansa. Se você não pretende mesmo ser um atleta, ou seja, uma cantora lírica, não sobrecarregue seu corpo nem desperdice seu tempo assim.)...
Acho que as cantoras forçam muito essa coisa de 'cantar grave', como Cássia Eller e Zélia Duncan, ou de 'cantar agudo' como a Marisa Monte e Adriana Calcanhoto. Forçam mesmo. Não vejo vozes diferentes, e duvido que as novas cantoras tenham vozes tão incrivelmente idênticas às vozes de cantoras de dez, vinte anos atrás. Mas não me importa. Nem um pouco. Respeito o trabalho de todas as cantoras que vejo. Vejo boas vozes, pessoas bonitas e talentosas, trabalhando lindamente. Só não me dizem nada de novo. Mas, quem sou eu? Não sou crítica de arte, não sou formadora de opinião. Sou apenas uma artista, e também consumo muita arte, por isso tenho opinião. E, se meus fãs-leitores-amigos querem mesmo saber, não vejo mal em falar sobre isso aqui.
Um dos e-mails era de um rapaz chamado Thiago. Ele disse que concordava com a minha "tese" sobre os tons de voz, e que gostava do fato de eu "não fazer música tentando impressionar gringos". Gostei desse comentário. De fato, tenho muitos amigos "gringos", e muitos deles ligados à música. Tive que "explicar" a eles diversas vezes que não sou o que eles estão acostumados a associar ao Brasil. Sou do Sul, que é culturalmente diferente do resto do país. Nossas influências, nossa vida social, nossos costumes são muito diferentes. Minha terra é fria, meu povo é branquelo, ucraniano,
polaco, somos chatos, tímidos, esquisitos. Nada como Ivete Sangalo, nada como Shakira, nada como Carmen Miranda.
Mesmo aqui no Sul vejo cantoras sem identidade, tentando ser Marisa Monte, tentando ser Nara Leão, com uma banquinho e um violão. Repito: respeito, admiro o esforço, mas lamento a falta de identidade.
Sou branquela, sou polaco-italiana, sou
concha, estudei piano desde antes de aprender a falar, sou erudita na música e na vida, e quase todo mundo que eu conheço por aqui é assim também. Mas nem todo mundo admite. Ainda querem ser mais "brasileiros", do ponto de vista gringo.
Sim, Thiago! Você tem razão! Não pretendo impressionar os gringos. Não vou refazer o que já foi muito bem feito na música brasileira antes, e que, pelo que vejo, já está sendo refeito a torto e a direito por aí.
Não sou melhor do que ninguém, mas sei que sou diferente. Minha diferença não me levou ao estrelato, ao Faustão, ao Grammy, mas me trouxe até aqui. E, Thiago, Giovana, Rodrigo, Carol, Anelize e Nicole: "Aqui" e "agora" são o melhor que eu posso ter. Estou muito contente com minha música. Estou gravando mais um CD, que está ficando muito melhor do que o primeiro, com mais qualidade, com mais criatividade, com mais piano, e tudo o que eu queria para este trabalho. Estou fazendo mais um vídeo (sim, estraguei a surpresa, haha), porque meus fãs, que não são muitos, mas são fiéis (e eu os amo) pedem e merecem que eu faça. Estou fazendo shows. São shows pequenos, mas nos melhores lugares possíveis para shows pequenos, com pouca gente assistindo, mas gente que está lá de coração, curtindo cada nota, cada vibração que eu emito.
Para uma artista, uma cantora-pianista, é a glória. Cantar, tocar, e ter quem me ouça e goste da minha música. É só disso que eu preciso.
Esse
post já está muito longo, se eu continuar, acho que ninguém vai ler. Então, tenho dito!
~
Lembrem-se: dia 17 é aniversário do OG! Teremos o Quiz. Fiquem de olho!
Escreva pra mim!
luccakosta@luccakosta.com