Em 2004 aprendi muito sobre mim mesma, e me livrei de grande parte do
medo que tinha de fazer coisas.
Aceitei o convite para fazer o papel da Princesa de Corinto no espetáculo de dança-teatro
“Eu, Medéia”, em São Paulo.
Minha personagem era a antagonista de Médéia, a princesa com quem Jasão se casava ao abandonar Medéia.
Havia um palco em cima do palco principal, onde eu dançava uma coreografia étnica que misturava meu
background clássico com dança contemporânea e danças típicas do oriente,
com direito a véus e tudo.
Também
cantava, em um determinado momento, uma canto do deserto, árabe. Muito interessante.
Conheci Bernardo de Gregório (literalmente no 'topo' dessa foto do grupo), que hoje considero um amigo, uma pessoa inteligente e sensível, que escreveu, dirigiu e “amadureceu” boa parte dos artistas que estavam no trabalho.
Mas essa era a parte boa. A parte chata eram as viagens. Sair de Curitiba na madrugada de quinta para sexta-feira, ou na própria sexta-feira, fazer três espetáculos com o corpo dolorido pelo cansaço da viagem, voltar na madrugada de domingo para segunda-feira, ou na própria segunda-feira, dormir mal, comer coisas que não comeria, carregar malas... Me sentia só e duvidava de que aquilo fosse valer a pena. Pensava comigo: “Vejo essas pessoas se dedicando tanto, e contentes com os aplausos, e eu mesma só quero voltar pra casa assim que chego nesse lugar barulhento”.
O final de cada espetáculo para mim era uma alívio. Era um certo martírio ser “estrangeira” e ter que seguir o ritmo exigido, mas ficava grata porque as pessoas envolvidas eram boas pessoas.
Também conheci Márcia Gorenzvaig, outra grande amiga, uma bailarina sensível e criativa. Fiquei hospedada em seu apartamento diversas vezes. Maria Cecília também estava no elenco, uma atriz jovem e bonita, que me “salvava” quando eu estava literalmente perdida em São Paulo à noite. Bárbara Eliask, outra bailarina que me hospedou, ela e Márcia vieram me assistir no Festival de Teatro de Curitiba meses depois. Amizade!
Fiz amigos dos quais não me esqueço, embora o contato com eles não seja tão freqüente hoje, às vezes consigo telefonar para Márcia, com Bernardo só converso por e-mail...
Mas o melhor da experiência toda foi aprender que não preciso ter medo de fazer o que quero. Haverá dificuldades, cansaço, preguiça e uma sensação de vazio, um pensamento insistente me desafiando e me estimulando a desistir. Nem todas as pessoas serão generosas, então, quando alguém for um amigo de verdade, essa pessoa deve ter um lugar especial na minha vida.
Quantas coisas fazemos quando nos esquecemos de que é “im”-possível...
“Nobody said it was easy...”
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