A peça “O Vampiro Cioran” está sendo um sucesso, embora - como sempre, o público curitibano resista um pouco a sair de casa em dias tão frios quanto os recentes. Um teatro tão grande quanto o Regina Vogue tende a parecer vazio, mesmo quando há um número razoável de pessoas na platéia.
O que me frustra um pouco é que não tenho visto o público gótico aparecer entre os espectadores. Não sei se faltou uma divulgação específica, ou se esse público não é de freqüentar teatro... Espero conseguir trazê-los para assistir à peça em breve, pois os lindos textos de Cioran são inspiradores, especialmente para quem aprecia a filosofia existencialista. É claro que “ser vampiro” é apenas uma metáfora, muito embora nós mordamos pescoços na peça. A estética do trabalho é impressionante. Acredito ser este um dos melhores trabalhos do autor e diretor César Almeida.
Só me resta torcer para que esse trabalho não passe em branco perante seu melhor público alvo. Se o público certo não aparecer, temo pelo rumo da peça, que deve acabar ganhando um “apelo
kitsh” antes do final da temporada. E não vou fazer nada quanto a isto, pois já me considero um pouco desgastada ao tentar defender um trabalho que nem sequer é meu, um trabalho do qual sou apenas uma pequena peça.
Infelizmente há, no meio teatral, uma grande falha de comunicação entre os artistas por falta de clareza, honestidade, e excesso de vaidade, além da insuportável falta de humildade de alguns que, sem a menor noção de sua pequeneza, nutrem uma auto-imagem megalomaníaca, que se alimenta de migalhas em forma de aplausos por gracinhas mal improvisadas.
Mas.... repito.... quem sou eu?
Uma mera atriz, tentando defender seu ponto de vista. Uma artista dançando no escuro, e gritando no vácuo. Não sou filha de ninguém, amiga de ninguém, não ganhei nenhum “prêmio”, e nem trabalho para isso.
É complicado pra mim receber uma proposta de trabalho, ponderar sobre aceitá-la ou não, ter uma impressão sobre o resultado, e, então, me entregar ao processo. Um processo onde me desnudo, onde cresço, onde deixo meu próprio ego e minha cruz de lado, para poder ser algo maior, algo com uma mensagem. E, então, de repente, ver o trabalho ser desacreditado por alguém do elenco, que manipula a situação a favor de sua própria vaidade, sem ao menos ter a disciplina necessária ao bom resultado final dos esforços de todos, e sem saber ouvir opiniões que vão de encontro à sua...
Mesmo assim, confesso: estou
adorando este trabalho.
Adoro ser a “Vênus Botticelli”.
Adoro ser a “Vampira Cioran”.
Nunca antes senti tanto prazer ao fazer uma peça de teatro. Deveras.
E
nada vai estragar isso.
~
P.S.: O anjo ainda deve ficar aprisionado por algumas semanas.
C’est la vie.
Só me resta rezar pelo melhor.
E aguardar. Aguardar, aguardar...
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