As bandas nas quais cantei antes de gravar meu CD eram bandas
cover. Sempre bandas de
Rock, às vezes pesado, às vezes clássico (acaba enchendo mas é bom para quem está começando), até passei por uma banda de
soul (é ótimo para treinar técnica vocal e aprofundar os conhecimentos sobre história da música popular... se bem que... er... acaba enchendo também).
Em duas bandas o pessoal que tocava comigo queria compor, mas, como vejo e revejo ao longo do caminho, esbarram nas limitações da falta de estudo, da falta de criatividade (de tanto copiar, copiar, copiar) e até, o mais triste, a falta de vocabulário.
[Ler é importante. Quem não lê não escreve nada que se aproveite.]
Então comecei a trabalhar nas músicas que eu mesmo escrevia, aqui e ali, esperando pelo dia em que ia encontrar bons músicos que gostassem do que eu escrevia.
Meu estilo melancólico não combinava com nada que eu pudesse ter como referência de algum artista brasileiro. Não havia nada em Português que apontasse para temas melancólicos, a não ser algumas coisas do Madredeus, meio
World Music, com fortes raízes no fado.
Naturalmente, eu escrevia em inglês. Até que um dia, não vi mais sentido naquilo. Pensei comigo: “Sempre que encontro uma dificuldade, procuro uma solução. Não posso, desta forma, me resignar com a idéia de que minha música só pode ser feita em inglês.” Como outros artistas que conheço, especialmente os que fazem música gótica, seja
gothic metal, seja melódica, neo-gótica (soa como um
new age com mensagens obscuras), percebi que, para escrever em Português precisaria cavar muito, e derrubar algumas muralhas.
Nosso idioma é rico justamente por sua melodia, presente em cada palavra, entonação, acentuações, regionalismos. Difícil dissociar a melodia própria de uma palavra, que traz em si uma atmosfera particular, para inseri-la no contexto de uma frase cuja intenção é gerar uma outra atmosfera. Escrever em Português sem soar MPB, "rock-cabeça" ou música brega não é fácil. É trabalhoso, difícil. Mas pode ser feito. Eu fiz. Ainda procuro mais artistas que estejam fazendo o mesmo, certamente eles existem.
Gravei cinco das minhas músicas para o primeiro CD, achei desperdício gravar mais do que isso. As outras ficam para o futuro. Sinto uma enorme satisfação quando alguém me escreve dizendo que não imaginava ouvir algo assim cantado em Português, o próprio dono do estúdio onde gravei um dia veio conversar comigo, durante a masterização, para perguntar o que eu ouvia, quais eram minhas influências, e disse: “Você está inovando, sabia?” [That's cool!]
Fico contente. Eu sou o meu público. Sou alguém que sempre gostou de músicas tristes, melancólicas, que sempre gostou de melodias bem trabalhadas, ainda que simples, de harmonias suaves, de intensidade emocional. Tentei fazer tudo isso, o melhor que pudesse, sozinha (sem banda, sem mesmo um produtor experiente), em Português. Tive medo que as pessoas odiassem! Fico aliviada de estarem gostando. E fico orgulhosa, sim. Finalmente, o conforto de cantar e ser entendida em casa, no Brasil, por todos.
That’s it ;)
“I will unlock my door and pass the cemetary gates”…
Escreva pra mim!
luccakosta@luccakosta.com