Estava aqui fuçando as fotos de “A Autoridade do Desejo”, peça na qual trabalhei no Festival de Teatro de Curitiba este ano. Ser protagonista é o máximo. Todo mundo olha pra você, quer saber seu nome, presta atenção em tudo o que você faz no palco. E nessa peça eu fiz tudo o que tinha direito: cantei, xinguei, esperneei, vestida, nua, semi-nua... Quem diria, eu, tão católica... Mas a Rosilene, minha personagem, é antológica. Uma menina vinda do interior do Paraná para realizar o sonho de ser cantora em Curitiba. Como tantas outras, acabou encontrando a marginalidade. Acabou sendo encontrada pela tragédia. Mas era bacana. O final era triste, eu morria assassinada quando estava cantando, no palco,
à la Selena. E, no Festival, o César Almeida [diretor] foi muito generoso comigo, pediu pra eu cantar uma música minha ao invés da pop-brega-anos-70 que eu cantava na temporada anterior. A história era ótima, as pessoas riam, choravam, era emocionante. A peça foi polêmica, falou sobre homossexuais, sobre transexuais, sobre pessoas jovens sobrevivendo amargamente nas ruas de uma Curitiba nada “cartão-postal”.
E eu apanhava. E como apanhava. Mais do que a Rosilene. Porque na cena em que Rosilene é espancada por outro personagem, o ator me batia meeeeesmo, sem dó. Falei 2.500 vezes pra ele, com toda a paciência “colega, querido, não me bata. Nós somos atores, temos que ser profissionais. Prometo que se você só fingir direitinho que está me batendo, eu grito feito louca, e ninguém vai duvidar da sua atuação”. Mas não tinha jeito. E, ao final da cena eu o derrubava no chão e, com minha poderosa bota de salto agulha, chutava o coitado em todo lugar que dói. Mas EU NÃO CHUTAVA de verdade. Se bem que todo mundo me dizia “ah, no teu lugar eu ia bater taaanto!!”
No final da temporada, já cheia de hematomas e desistindo da boa educação, resolvi seguir os conselhos que todos me davam. Na hora da revanche, fechei os olhos e chutei, sem dó. Mas não fiz gol. Só acertei a canela do coitado, huahuahua... Se bem que ele ficou tão verde de ódio, que parecia o Incrível Hulk! Ele arregalou os olhos, e, espumando, esboçou reagir [isso NÃO estava no roteiro], mas meu instinto de auto-preservação estava trabalhando naquele momento. Ele veio, e levou chute de novo. Na canela. Sorte dele. Don't mess with me!
“Tudo vai mal... Tudo... Tudo é igual, não me iludo e, contudo...”
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