sábado, maio 13

Entrevista.



[maio-2006]


"Despontando..."

Uma novidade em termos musicais, em estilo e em sonoridade, surge no cenário independente do Brasil.
É Lucca Kosta, dona de uma voz suave e dramática, que compõe músicas ao piano, misturando sons pesados ou eletrônicos a letra tristes e existencialistas.
Ela nos concedeu esta entrevista em São Paulo, no início de 2006, quando preparava seu show de lançamento de seu primeiro CD.

Alfazine - Você gravou um CD independente, fez um clipe, montou um pequeno show. O que espera do futuro?

LK - Ainda é cedo pra dizer. O trabalho ainda está começando, há muito o que fazer. Espero que as pessoas assistam aos shows, espero ficar um pouco mais conhecida, e, é claro, seguir em frente.

Alfazine - Você, como muitos artistas no Brasil, é independente. Acha importante chegar a uma grande gravadora, assinar um contrato, tocar nas rádios?

LK - Importante... Digamos que, sim, é importante. Como artista profissional, não há como negar. Mas o grau de importância que isso tem pra mim é que interessa, não é? Tenho amigos que já estão em gravadoras, com contrato assinado, e têm seu trabalho sendo tocado nas rádios. Nem todos estão artisticamente satisfeitos, a maioria manda muito pouco na própria criação e nos rumos que seu trabalho toma. Tornam-se "bonecos" manipulados por produtores e executivos. A idéia de isso acontecer comigo é um verdadeiro pesadelo, que me faz refletir sobre os dois lados da moeda. Ter uma boa divulgação, produtores competentes trabalhando nas minhas músicas, mais dinheiro pra caprichar nos shows, nos clipes... Por outro lado, talvez tivesse que me submeter a exigências desse mundo "artístico" que envolve muito dinheiro, e que precisa vender muitos CDs para se manter, que pode fazer um artista ser "vendido", mesmo precisando mudar sua embalagem, e até seu conteúdo...
Enfim... quando a hora de decidir sobre isso chegar, estarei pronta. Mas faço questão de não mudar meu conteúdo, e também não abro mão da minha embalagem.

Alfazine - O que você quer dizer com "embalagem"?

LK - Tive uma empresária que trabalhava muito mal minha imagem. Ela achava que eu tinha que me parecer com outras artistas, que tinha que seguir a tendência do momento. Queria que eu tivesse "cara" de um determinado estilo, de uma determinada faixa etária, de uma determinada faixa social, de uma determinada personalidade, tudo que fosse "facilmente aceitável". E não funcionava, é claro. Não adianta você se adequar à "tendência", ao que já foi testado e é facilmente aceito, se não houver verdade na mensagem que você transmite. Além disso, o julgamento dela sobre o que já era "aceito", como qualquer julgamento, é muito subjetivo.
Um dia, mudei tudo. Comecei eu mesma a trabalhar minha imagem, a vestir o que queria, a tirar fotos como queria (parei de forçar sorrisos de comercial de pasta de dente), e tudo começou a entrar em harmonia. Comecei a sentir que estava fazendo algo que combinava com minha personalidade, e com meus sentimentos. Da ultima vez que ela me ligou, disse assim: "Estive vendo um vídeo seu, e acho que você tem que cortar o cabelo. Está muito comprido, isso está fora de moda. Precisamos de um visual mais moderno."
Refleti um pouco, liguei de volta para ela, e encerrei o assunto. Disse: "Olha, eu sei que você está nesse mercado há anos. Mas eu sou a pessoa que mais me conhece há anos. Não adianta você conhecer o mercado e não me conhecer. Eu não sou uma pessoa moderna, que usa o corte de cabelo da moda. Eu sou uma pessoa clássica, barroca, talvez até medieval. Nem um pouco 'moderna'. Não adianta cortar o cabelo. Sou mais 'antiga' do que a minha avó, e sempre fui assim. Se você não puder fazer nada pra trabalhar minha imagem sem mentir sobre minha personalidade, não adianta continuar me tendo entre os seus artistas."
Ela não trabalha mais comigo, é claro.

Alfazine - Sua música é uma mistura de new age com música gótica?

LK - Eu nem sei se posso responder isso direito... não sou nenhuma fã de New Age. Gosto de Enya, e olhe lá... Gosto de arte gótica, mas não sou a fotografia impressa de nenhuma tribo radical, que pinta a cara de branco, os olhos de preto, e veste um capa de couro.
Minha música é diferente, eu sei. Os góticos que gostam de mim dizem "que bom encontrar alguém fazendo um som assim em português". Os fãs de Tori Amos, Madredeus, Kate Bush sempre me estimulam, dizem que me pareço com elas no estilo de cantar, de compor. Ainda não sei, sinceramente. São influências, apenas.

Alfazine - Mas essas fotos de você crucificada, vestindo uma coroa de espinhos, isso não é gótico?
LK - Sim, sim (risos). Não consigo evitar minhas lembranças da infância, a educação cristã, as imagens de santos e de Jesus crucificado. Isso sempre me fascinou. A idéia de auto-sacrifício é a grande metáfora cristã, o grande dilema da nossa vida.

Alfazine - Sua música me parece muito intimista. Você acha que dá pra atingir a um grande publico com ela?

LK - Gosto de tocar em lugares pequenos, para poucas pessoas. Minhas canções "funcionam" bem assim. Em termos de shows, também não me vejo em uma arena, cantando para milhares de pessoas. Mas acho que, em termos artísticos, há uma certa "saturação", as pessoas já não precisam mais só de músicas alegres, dançantes, de verão e praia. Estão buscando mais poesia, e até um pouco de melancolia. Tristeza e medo são sentimentos humanos, todos se identificam com eles.

Alfazine - E o aspecto pessoal da sua música? Suas letras são autobiográficas?

LK - Sim, são. Falo sobre coisas que sinto ou que senti quando passei por alguma experiência. Reconheço que são todas canções dramáticas.

Alfazine - Isso não é ruim? Cantar coisas que te lembram tristezas?

LK - Não, não é ruim. Sentimento sempre inspira a arte. Qualquer sentimento. Coisas que escrevi em um antigo diário, coisas que senti e que me fizeram amadurecer, tudo me serve de inspiração. E, quando o trabalho está pronto, não preciso sentir tudo outra vez. Preciso apenas interpretá-lo, como artista. É bacana porque significa algo, estou cantando algo que vivi, que é real. Mas que está superado, de certa forma. Se não estivesse, eu não poderia cantar. Posso dizer que cantar minhas tristezas é uma maneira de superá-las.

Alfazine - Você falou sobre sua "personalidade", sobre não ser moderna. Você é uma pessoa "das trevas"?

LK - Sim (risos)!!! Não, é claro que não. Ao contrário, as pessoas sempre dizem que pareço um anjo (mais risos). Mas sei quem sou. Não sou a moça do comercial de pasta de dente. Conheço meus fantasmas, meus medos, procuro conhecê-los cada vez mais, para evoluir. Sou muito mística, também. Não vou renunciar ao meu "lado negro", mesmo que ele não seja muito comercial.

Alfazine- Porquê você decidiu começar a divulgação do seu trabalho com pequenos shows, tocando um piano e cantando, sozinha? Uma banda não seria melhor?

LK - Ainda estou muito "dona" desse meu trabalho solo. Já cantei com bandas, e o trabalho nunca era meu, de verdade. Sempre cantava o que os outros queriam, como queriam, até escrevia as músicas como eles queriam. É a primeira vez que um trabalho meu é completamente meu: letra, música, arranjos, performance. Pensei em começar os shows com uma banda. Procurei músicos que fossem competentes, e em quem eu pudesse "confiar", mas acho que ainda estou muito desconfiada (risos). Por enquanto faço os shows assim. Aproveito pra melhorar minha técnica como pianista, que nunca foi sensacional. Faço o show sozinha, só com um piano. Mas isso pode mudar, vai depender das circunstâncias, e de encontrar músicos que tenham afinidade comigo e com meu trabalho.

Alfazine- Quais são as novidades para 2006?

LK - Um novo videoclipe, o show. Espero poder viajar um pouco com o show, levar a alguns lugares onde sei que pessoas querem me ver cantando ao vivo. Estou trabalhando pra isso. Quero interagir melhor com as pessoas que gostam da minha música, pra isso, vou reformular minha comunicação com elas, através do meu site.

Alfazine - E um novo CD?

LK - Tenho material, músicas, arranjos. Mas ainda não é a hora. Meu primeiro CD ainda pode render muito pra mim como artista independente. Gravei apenas cinco canções mas acho que todas elas têm potencial para um clipe, ou para novos arranjos ao piano no show ao vivo. As músicas novas vão ter que esperar. Talvez em 2007.

- Lucca Kosta vive em Curitiba, e foi entrevistada por Ana Carolina. -

Para saber mais sobre a artista:


SITE OFICIAL:
http://www.luccakosta.com
Fotolog:
http://www.fotolog.com/lkosta
Blog:
http://luccakosta.blogspot.com
Videoclipe:
http://www.youtube.com/watch.php?v=5sfVLmPIWmc "



~

[Gostei tanto dessa entrevista do Alfazine, que resolvi copiar aqui. O Alfazine é um fanzine de estudantes. Agradeço desde já a eles, especialmente a Ana Carolina.]







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luccakosta@luccakosta.com

quinta-feira, maio 11

Absolute Power!!

Anos atrás, um amigo que estudava em Nova York me mandou umas músicas de uma banda de speed metal chamada Powermad.
Adorei o som, ouvia a fita cassete (siiim!!!) o dia todo, e tirava os solos de guitarra [eu tinha acabado de comprar minha guitarra, uma Ibanez RG550DX liiinda - a azul aí da foto].
A música "Nice Dreams", que era minha favorita, nunca me saiu da cabeça, mesmo anos depois, e já não tendo mais a fita cassete.
Há algum tempo atrás, achei, no meio de papéis velhos, um caderno de partituras que eu escrevia à mão, e, entre meus rabiscos, as notas de "Nice Dreams".
=D
So cool!
Então, pensei: "Não é fruto da minha imaginação. O Powermad realmente existiu!!"
Incrivelmente, não tinha comunidade no Orkut (sim, porque tudo tem comunidade no Orkut)...
Criei a comunidade.
Mas, constatei, finalmente: NINGUÉM conhece o Powermad!!!!
Que injustiça com essa banda que durou tão pouco...
NINGUÉM entrou na minha comunidade!!!!
Mas eu não desisto!
Vou deixar a comunidade lá, aberta, só comigo. Se algum dia, algum ser em extinção procurar uma comunidade do Powermad, a minha vai estar lá!
Comunidade Powermad =D

Hoje, pela primeira vez, vi a cara dos sujeitos da banda, no YouTube!
Bacana, visual metal farofa anos 80, ROX!
You WILL enjoy!!!

Videoclipe de "Nice Dreams" - Powermad


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segunda-feira, maio 8

Open Fire

Há algum tempo atrás quase perdemos Angel para uma anorexia.
Anorexia. Quando você não come.
Angel não comia. Começou com uma dieta para perder alguns quilos, o que acabou se tornando uma obsessão. Quando nos demos conta, estava no hospital, pesando pouco mais de 30 quilos e lutando contra a auto-imagem de “um monstro imenso e cheio de gordura”.
A anorexia tem esse poder: fazer a pessoa enxergar no espelho uma imagem completamente irreal.


Meu pai, médico, parecia não se abalar.
Perguntei a ele: “O que vai acontecer com Angel?”
“Vai morrer”, ele me disse.
Me indignei: “Nem parece que você é pai. Parece só um médico, insensível. Nem se importa?”
Então, ele me confessou diversas coisas. Coisas de médico. Histórias de pessoas que simplesmente morrem, injustamente. Contou-me sobre uma vez em que perdeu uma paciente tão jovem, que não se conformava. Chorava tanto que a família teve que consolá-lo. “Da primeira vez, você morre junto com o paciente. Depois, fica mesmo insensível. É uma forma de auto-proteção.”
“Você não é médico de Angel. É pai.”

Quando conversaram, Angel ainda achava que estava no hospital atendendo a algum capricho familiar, e não via a hora de sair dali e voltar para a academia.
A conversa com meu pai foi mais ou menos assim:
“O que você quer? Quer que eu coma? Já disse que não quero comer.”
“Não quero nada. Só vim me despedir.”
“Aonde você vai?”
“Quanto tempo seu médico disse que você vai viver?”
“Uma semana.”
“Ele foi otimista. Eu daria dois dias. Mas não sou seu médico. Faça o que você quiser. O que me entristece é que você vai morrer de fome. Você não precisava morrer de fome.”

Angel chorou, e deixou cair a máscara de forte. Confessou que não conseguia comer, por mais que tentasse.
Esse foi só um episódio do drama que Angel passou, que levou anos, causou sofrimento, medo, perdas. Está superado.
Se você puder escolher quando vai morrer, não escolha morrer hoje, jovem, de fome. Muita gente vai morrer hoje, jovem, ou de fome, sem ter escolha.
Busque ajuda, assim que perceber que isso pode estar acontecendo com você.


“I love you to the bone.”



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