quarta-feira, abril 4

Bizarro!! XD [ou "Você Nunca Ouviu Nada Parecido"]

"Lucca Kosta: Você nunca ouviu nada parecido.

Era um dia qualquer de 2006. Fui ao Porão do Rock tomar minha cerveja de fim de tarde. Sempre passava lá no meio da semana depois do trabalho porque eles abrem cedo e uma galera se encontra por ali. Às vezes eu ficava para o show, mas nem sempre. Quarta feira era o dia da Peek-a-Boo, que toca anos 80, The Cure, David Bowie, etc. Era também o dia da galera mais gótica. Eu ficava vendo os telões, rolava Smashing Pumpkins, Depeche Mode, Joy Division, e conversava com um ou dois que sempre estavam por lá. Naquela noite, cheguei tão cedo que vi um povo estranho no palco passando o som. Uma guria meio loira, meio ruiva, tocando música sacra em um teclado Yamaha com som de piano. Fiquei curioso. Nem ia ficar mais, mas resolvi ver a passagem de som. Tinha mais dois caras no palco, um batera e um baixista. O baixista era uma figura. Alto, vestido de preto, coturnão, careca, cara de mau. Fazia uns riffs porrada. Não dava pra entender ele com aquela guria no mesmo palco. O batera também, se empolgava e fazia um som pesado. Ela falava pra ele: “Menos, hein? Olha que vou te comprar um par de vassourinhas”- isso, sim, fazia sentido.
Dei uns passos pra trás, pra chegar junto da mesa de som, e ver se descobria o que estava acontecendo. O pessoal da banda da casa ajudava a equalizar, e foi então que surgiram dois garotos góticos e perguntaram: “Essa aí é a Lucca Kosta?” O cara da banda da casa, que parecia surpreso por alguém conhecer a garota, respondeu que sim. O guri emendou: “Sou fã.”

Aproveitei pra perguntar pro cara da mesa: “Quem é?”, e ele respondeu “Não sei. Vai abrir hoje, mas nunca vi antes.” Dei uma sondada pra ver que som era, ninguém sabia. Acho que só aqueles dois que perguntaram pelo nome dela. Pelo que ela e os dois outros improvisavam ali, na passagem do som, parecia que queriam mesmo fazer suspense. Tocavam Kate Bush, mas de um jeito diferente, meio pesado, menos agudo. Mais lento e grave. Resolvi ficar até a hora do show. Alguma coisa me dizia que ia valer a pena esperar. E valeu.
Quando chegou a hora de começar, o povo ainda estava no ambiente lateral, mais afastado do palco, bebendo e conversando. Só eu e mais uns três estávamos já perto do palco, curiosos pra ver o show começar. Ela estava sozinha, naquele banquinho, dedilhando o teclado, como se fosse a hora da missa. Os caras da banda ainda não se via. Aí, ela começou a tocar. Pensei comigo: “O que é isso? Angie? Será?” E era mesmo. Angie, dos Stones. Tão diferente... Meio chorada, bonita... O povo foi chegando, sem entender. Vinham pelo som, sacar se aquilo era um rádio, ou se tinha mesmo alguém ali cantando. E foram chegando, chegando... E ela ali, suave. Terminou, bati palmas, os outros também. Ela sorriu e começou outra música. Parecia que estava chorando, dava um arrepio. Demorei pra sacar que era Eleanor Rigby, dos Beatles. Aliás, alguém teve que dizer “cara, não acredito”, pra eu entender que ela estava mesmo tocando o que eu achava que ela estava tocando. Ela parecia tão frágil cantando aquilo, como se a música fosse a história de alguém que ela conhece. Juro, dava vontade de consolar a menina. Arrepiava.
Eu sei que parece que eu estava em uma viagem mas juro que não tinha tomado nada além de cerveja. Estava mesmo curtindo, e só aquelas duas músicas já teriam valido a noite. Então, os caras entraram. O baixista carecão e o batera. Aí, a coisa ferveu mesmo. Smashing Pumpkins pra começar. A galera delirou. A essa altura, todo mundo já estava ali, tão curioso quanto eu, tentando entender como uma guria com cara de boa moça podia estar ali fazendo aquele som. Todo mundo curtiu Smashing. Mas foi quando ela tocou Faith No More que ela me conquistou. Imaginem “The Real Thing” tocada no piano, e cantada, não como se fosse um rap, mas como se fosse uma reclamação, uma convulsão, uma mulher suando, gemendo como quem está tendo um pesadelo. Ela martelava aquele teclado, levantava daquele banquinho, parecia que ia pular, marcava o compasso com a bota, chutando o chão com força, jogava a cabeleira pra trás, fazia tanta estripulia, pulsava de corpo e alma junto com a batida da música. Comandava o batera e o baixista só com o olhar. Na hora de amolecer, ela respirava fundo, e parecia que tinha voltado pra missa. A voz acompanhava. Ela era um carrossel, ora nervoso, ora suave feito uma brisa quente.
Na hora da febre, parecia tão empolgada que eu pensava que ia pegar aquele teclado e jogar pra cima, feito Kurt Cobain, só pra destroçar tudo. Depois voltava ao normal, tocava bonitinho, cantava afinadinho, sem gritos nem nada. Ela ia nos hipnotizando, nos guiando para onde queria naquela viagem que, infelizmente, foi curta. Não sei quantas músicas foram, mas, quando estava ficando bom, acabou.
O mais legal era que eu aplaudia, gritava, e, entre uma música e outra, pedia coisas que tinha certeza que ela devia conhecer, pelo repertório que estava tocando. Eu pedi Alice in Chains, Smiths, The Cure, e ela mandou na hora. Dava pra ver que não tinha ensaiado, porque os três só se olhavam, e os músicos iam seguindo ela. Ela tocava, nem que fosse só um trechinho, mas sempre de um jeito muito diferente da versão original. E, entre as músicas, agradecia os aplausos com humildade.
A saideira era pra ser “Sweet Dreams”, do Eurythmics. Se alguém me contasse, eu nem ia querer ouvir, porque já enjoei dessa música faz anos. Mas, como todas as outras, estava muito diferente. Ela repetia uma ou outra frase milhões de vezes, pulava trechos inteiros, deu outra cara pra música. E foi o momento dos solos do batera e do baixista, que moeram! Ela também fez um solo com o teclado e depois, parou tudo e sussurrava e choramingava “Who am I? Who am I? Who am I to disagree-ee-ee-eee...” e voltou pra música, detonando aquele pianinho. Foi uma saideira digna de estrela do rock!
Mas não foi a saideira, porque a galera não ia deixar ela ir embora. Nem eu. A gente fez ela tocar de novo algumas, Smashing Pumpkins e Smiths, aí ela pôde sair, feliz da vida, agradecendo como se não soubesse se a gente ia mesmo gostar dela. Parecia surpresa, feliz, com ar de missão cumprida.
Depois veio a banda da casa, a Peek-a-Boo, que até agradeceu pelo show dela! A vocalista começou dizendo: “Depois da Lucca Kosta, a gente vai ter que botar pra quebrar aqui, pra ficar à altura”. Muito legal isso. Porque, de repente, havia um respeito no ar, e não competição, como normalmente aconteceria entre bandas que não se conhecem. Enquanto eles começavam, fui atrás de falar com ela, ou com alguém da banda dela, pra saber mais alguma coisa, de onde ela veio, se era o primeiro show, quando iria vê-la de novo.
Fiquei sabendo que ia tocar mais vezes por lá, e pedi pra ela me avisar quando, porque eu não queria perder nenhum show. Ainda aproveitei pra ficar pedindo músicas que não ouço faz tempo e que queria ver como ela tocaria. Ela gostou das minhas sugestões, até dizia: “Cara, eu queria ter tocado essa, mas achei que ninguém ia lembrar”. Encorajei a garota, e disse: “Toca mesmo, o que você quiser. Vai ficar massa.”
Ela ganhou um fã naquela noite (mais do que um, com certeza). E digo a quem não conhece: vocês têm que vê-la. Ao vivo!!! O CD, os clipes, tudo isso é legalzinho, mas o show é que é do caralho. Não é a mesma coisa, posso garantir. E sou um cara exigente. Começo a ver essas bandas novas já com vontade de vaiar. E saí de lá impressionado. Pode crer. Você nunca ouviu nada parecido com Lucca Kosta."




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Bizarro!! Bizarro!! Altamente bizarro!!
Nem sei por onde começar...
Definitivamente, é o caos! Não existe marasmo na minha vidinha! Adoro essas emoções!
Se bem que, tomo uns sustos e tanto...
Ontem foi a mamma, assaltada, tudo aquilo que você quer morrer sem ter que ver sua mãe passar.
Hoje foi meu irmão, assaltado. Nem parece a mesma cidade onde eu nasci! O que está acontecendo? Quanta violência! Em um bairro sossegado, de dia... Estou bem atordoada com isso. Acho que só fico tranqüila porque a gente se une, os irmãos, nessas horas, e consegue resolver tudo.
Mas é bizarro...
Aí, antes que eu possa reclamar, vem uma boa notícia...
Parece que Deus me manda o trash e o prêmio tudo no mesmo malote. Pra eu não ter tempo e me lamentar.
Porque hoje, depois de assistir a um filme bobo pra espairecer ("O Número 23", um desperdício do talento de Jim Carrey), a mamma me liga pra contar do assalto do meu irmão.
Aí, converso com ela, tento ligar pra ele, fico atordoada, impressionada, vou conectando aqui pra ver se chegou alguma confirmação sobre o show do Evanescence, e, de repente, um e-mail daqueles que sei que vou ter que ler com atenção. Um daqueles que começa com "não sei se você lembra de mim, eu fui num show seu", e eu lembro da pessoa na hora, e fico tão feliz de ELE não ter me esquecido a essa altura.
Eu lembrava dele, sim, porque ele foi muito bacana comigo, aplaudia muito, e, no final, veio conversar.
Pois bem, a pessoa é o Zé Luiz, um cara muito gente fina, apesar da cara de mau, cheio de tatoos e piercings, barbicha e etc (obs: em geral, esses são os mais gente boa mesmo).
Ele me disse tanta coisa no dia do meu show, que eu perguntei se podia escrever aquilo no blog. ^^
Sim, sou cara-de-pau, às vezes. Mas acabei não escrevendo nada. Então, ele mesmo escreveu, e pediu pra eu publicar aqui. É claro que eu vou publicar!! Esse e-mail é melhor do que uma caixa inteira de brownies!

Também lembrava dos dois garotos, que acabei conhecendo pessoalmente naquela noite, os dois góticos. Fiquei tão feliz de saber que já tinha DOIS fãs! Um deles me contou que conheceu meu trabalho quando morava no Japão, pela internet. Tudo isso é muito bacana. Bizarro (!!!!), mas incrivelmente bacana.

Bizarro, não é mesmo?
Agradeço outra vez. Sempre! Por tudo!
Vocês fazem tudo valer a pena, garotos!
Amo vocês!

Lucca Kosta



Escreva pra mim!
luccakosta@luccakosta.com

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