domingo, fevereiro 25

Tédio versus Caos

Hoje às 4:30 da manhã, aproveitando o silêncio da madrugada dominical, refleti sobre a minha vida sob o aspecto do tédio versus caos.

Não fui justa quando reclamei de tédio. Se há tédio em minha vida, ele é tão fugaz quanto uma garoa, que eu mal noto começar e terminar.


Minha vida é muito inconstante. É cheia de surpresas. Não vou dizer que é imprevisível, porque a vida de todo mundo é imprevisível. Mas posso dizer que minha vida é bem caótica. No bom sentido, até. Sim, existe um bom sentido para o caos. O caos ajuda a mente a criar. Além disso, tentando organizar a vida dentro do caos, a gente descobre talentos que não sabia ter. Não deixa de ser bom a gente não conseguir prever nada. É claro que, se a gente pudesse ter uma rotina, e exercer uma disciplina constante, muita coisa seria confortável. Mas acho que nunca fui uma pessoa de ficar na “zona de conforto”. Acho que, no fundo, sempre corri atrás do caos. E, quando tentei mudar de rumo, o caos veio atrás de mim.


O único problema em se trabalhar no caos é se você deixa o caos te distrair. Porque você não pode deixar isso acontecer. Você precisa manter o foco, e isso é muito difícil. E manter o foco depende de um pouco de concentração e muita serenidade. Serenidade, como você sabe (ou como talvez não faça idéia), é a coisa mais difícil de se ter.


Ver sua rotina mudar o tempo todo, ter a disposição de um leão em uma semana, e, na outra, sentir-se como alguém tão cansado como se tivesse meio século de idade a mais, ter na insônia um mal perene e desgastante, e, de repente, ver nela uma grande aliada na produtividade e no auto-conhecimento... tudo isso é o lado vibrante do caos.


Confesso: praticamente toda vez que me queixei de tédio, estava apenas irritada com alguém ou com alguma coisa. Estava em expectativa, e frustrada. Expectativas podem ser uma coisa bem negativa. Você perde tempo, sente o “tédio” que, na verdade, é uma frustração por estar ali esperando por algo que tem pouca importância.


Aquele tédio real, o marasmo, os dias sempre iguais, isso é uma coisa que eu não conheço. Ainda que eu viva aqui, na capital fria e úmida, bucólica e sem sal, chamada Curitiba. Um fim de mundo verde e tedioso, que mente descaradamente com sua maquiagem de capital brasileira ‘do primeiro mundo’.


Ainda que eu sinta cheiro de chocolate vindo da cozinha todos os dias, e tenha um gato que vira os olhos psicodelicamente quando ouve “You Keep on Movin’”, na voz de David Coverdale, em seus tempos de Deep Purple.


Ainda que meu telefone toque até hoje, com pessoas pedindo favores absurdos, dinheiro emprestado, pouso, carona, como se eu fosse rica, desocupada, médica, advogada, motorista ou mesmo um catálogo de serviços ambulante. Ainda que minhas primas e tias fiquem meses sem falar comigo porque eu não apresentei uma desculpa decente para faltar à mais recente festa de família.


Ainda que eu tenha trocado meus remédios tarja-preta por noites em claro interessantes e um pouco de depressão cíclica, só pra dar um tempero. Ainda que eu seja tão cautelosa onde poderia arriscar mais e tão inconseqüente com aquilo que deveria preservar com cuidado.


Ainda sim, minha vida não é um tédio. Tem seus dias nublados, e como tem. Mas é o caos. Não há como negar.






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luccakosta@luccakosta.com

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