Tudo precisa ser dito pra ela mais de uma vez, de perto, em alto e bom som, e, de preferência, olhando para ela, porque a expressão facial e a leitura labial devem colaborar para o entendimento do que se está dizendo.
Ontem eu sentei um pouco no sofá para ler, e ela, da cozinha, perguntou:
"Lucca, você prefere molho branco ou bolognesa?"
Respondi (ainda em tom normal, desligada do detalhe da dificuldade auditiva dela):
“Bolognesa”.
Ela repetiu:
“Você prefere molho branco ou bolognesa?”

Percebendo que ela não havia ouvido minha resposta, respirei fundo, virei minha cabeça em direção à cozinha, e falei, em um tom muito mais alto.
“Bolognesa. Eu prefiro BOLOGNESA.”
Ela ficou em silêncio. Não disse ‘ok’, nem ‘obrigada’, nem ‘eu prefiro molho branco’, nada. Pensei que tivesse ficado chateada por eu ter falado tão alto. Afinal de contas, ela não é completamente surda, só um pouco. Como eu estava com gripe e com meu estoque de paciência no limite, deixei pra lá. Continuei a ler meu livro. Dali a uns cinco minutos, ela entrou na sala, parou na minha frente, olhou para mim tranqüilamente, e perguntou:
“Lucca, você prefere molho branco ou bolognesa?”
Olhei para ela, e já sorrindo, respondi:
“Eu prefiro bolognesa, Conceição.”
Ela concordou com um gesto de cabeça, e, quando se virou para voltar para a cozinha, resmungou:
“É que eu tinha perguntado duas vezes mas acho que você não escutou.”
Moral da história: quem é o surdo da conversa depende do ponto de vista.
Escreva pra mim!
luccakosta@luccakosta.com
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