Ele não tem motivo para me desprezar. É só um capricho. Provavelmente nunca fui a pessoa favorita dele. Fazia maldades com ele quando éramos crianças. Dava sustos, inventava monstros, até batia nele. Uma vez, estava brincando com minhas amigas na garagem. Chovia forte. Ele vinha, queria brincar junto. Ninguém quer um irmão pequeno atrapalhando quando se é criança. Se você já foi irmão mais velho, ou se já foi o bebê, sabe do que estou falando. Eu dizia: “vai lá pedir doce pra Sony”, e ele ia, depois voltava, e ia outra vez.
Havia uma escada de pedra num corredor lateral da casa, que dava acesso da garagem para a cozinha e para o andar que ficava num nível abaixo da casa. Ele escorregou e caiu quando ia para a cozinha, porque a pedra estava molhada. Como chovia, eu e minhas amiguinhas não escutamos ele chorando. Sony apareceu nervosa, com ele no colo, todo ensangüentado. Eu não conseguia imaginar de onde podia estar vindo tanto sangue. Fiquei em choque. Mas lembro de ela me pedindo para chamar meu pai pelo telefone. Não sei como, mas chamei. Não lembro de mais nada.
O que sei é que o corte foi pequeno, mas profundo. Um buraco na lateral da testa. Saiu bastante sangue, e se espalhou pelo rosto dele e pela roupa. A chuva o encharcou também, então, não sei se ele estava tão vermelho porque a água ajudou a “espalhar” o sangue pela roupa dele, que era tão pequeno.

~
Puxa, nem era bem esse ‘segredo’ o assunto deste post. Essa é só mais uma das minhas culpas. Nem é por isso que ele me despreza. Acho que nem lembra. Levou uns pontos e ficou com uma cicatriz, que tem até hoje. Foi só um susto. Pra mim, um dos três maiores sustos da minha vida.
~
Não há porque escrever mais sobre este segredo. O que importa é que tudo vai acabar bem. E tudo está bem quando acaba bem.
Lucca Kosta
Escreva pra mim!
luccakosta@luccakosta.com
Nenhum comentário :
Postar um comentário