sábado, julho 29

Litost *

Ontem André Abujamra disse que gosta de estar em Curitiba porque as pessoas o tratam com carinho (foi mais ou menos o que ele disse). Pois então, André, não tenha a infeliz idéia de se mudar para cá de vez. Aí, meu filho, você vai ser mais um Curitibano, e, portanto, um ser invisível e desprezível, apenas mais um na multidão(mas não na multidão paulistana, onde você tem o refúgio da solidão de sua pequeneza no universo, mas na multidão curitibana, onde se é sempre um verme desprezível, onde sempre se está incomodando alguém, onde sempre se está ocupando um espaço ao qual não se tem direito).
Hoje, naquele lugar clássico, ouvindo aquelas bandas que ainda tocam aquelas músicas, com as mesmas caras de sempre, com o entra-e-sai de pessoas (como sempre...), percebi minha pequeneza diante da grandeza do bege ao redor. Lugares bege, pessoas bege, drinks coloridos bege, clássicos do rock bege. Meninas louras bege, anjinhos bonitos bege, bartenders bege, e eu, com a alma atormentada...
Se detesto esse bege, porque será que ainda insisto em nadar à superfície de vez em quando, para ver se alguma coisa mudou?
Alguns Steppenwolfs depois, Angel me diz “já é quase uma da manhã”... Retruco “you mean , ‘ainda nem é uma da manhã’, mas ok, vamos embora antes que eu comece a batucar esse repertório da mamma e a cantar junto”...



“I’m going under.”




*Litost: Segundo Milan Kundera, uma “palavra tcheca intraduzível.” “Um estado atormentador nascido do espetáculo de nossa própria miséria repentinamente descoberta.”



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