
Aliás, no "Encomium", a dupla "Never The Bride" me

chamou a atenção por causa do piano e das figuras femininas, uma loira e uma ruiva. Como na época eu sempre cantava com minha irmã (que é loira), que era quem tocava o piano na nossa dupla (eu só cantava), foi natural ter me identificado mais com a versão do "Never The Bride" para "Going to California" (esta sim, uma das minhas favoritíssimas canções do Led Zep).
Tori Amos ali, para mim, era apenas um nome.

O tempo passou, o projeto com minha irmã mudou de cara. Cantávamos as duas em uma banda de soul e nenhuma de nós tocava piano na banda. Revezávamo-nos em covers de Etta James e Aretha Frankin, até que o trabalho todo foi reformulado, e saímos da banda. Minha irmã tinha outros interesses pessoais, não queria mais priorizar a música, então, fiquei sozinha. Foi quando voltei ao piano.
~
Nunca havia deixado de tocar piano e cantar, mas não achava que tocaria ao vivo hoje, e que não abriria mão do piano na minha carreira solo. Só tocava entre amigos, ou sozinha. Sempre achei que tocaria quando fosse gravar minhas canções. Tocar em frente a uma platéia de pessoas estranhas me parecia pouco provável.
No entanto, não conseguia mais me ajustar a uma banda. Não sei se posso culpar à minha banda anterior, que era formada de muitas pessoas diferentes, com personalidade forte, e conhecimentos em música muito diferentes entre cada membro, e também com ambições pessoais muito desencontradas, o que me deixou excessivamente cautelosa no trato com músicos, especialmente com "músicos de ocasião". Tentei trabalhar com outra banda na seqüência, e achei que era hora de rever meus objetivos, e escrever minhas próprias músicas de um jeito que eu gostasse de cantá-las.
Quando finalmente gravei o CD, ainda precisei de um tempo para decidir como iria mostrar minhas músicas ao vivo, e, novamente, montar uma banda não parecia uma tarefa fácil, porque eu mesma ainda não tinha certeza de como pretendia ser vista.
A opção pelo piano nas apresentações ao vivo, que me deixava insegura, cheia de medos de ser criticada, foi retomada. E foi justamente o que me deu confiança. Com o piano, vi que não precisava explicar nada para outros músicos.

Podia tocar a música de acordo com o clima, com a atmosfera, e com meu estado de espírito. Como meu repertório próprio ainda pequeno, comecei a incluir as covers de um jeito nada recomendável, mas que deu muito certo. Lembrava de uma música que tinha o clima do que eu estava tocando (as primeiras foram "Behind Blue Eyes" do The Who e "Numb" do Linkin Park) e saía tocando e cantando do jeito que eu lembrava, improvisando, e pronto. Só pra preencher o tempo de um pequeno show. E peguei gosto pela coisa ao ver a reação das pessoas. Comecei a escolher as músicas com calma, e a trabalhar os arranjos para dar um clima pessoal a cada uma. Nesse meio tempo, quase desisti de ter uma banda. Já me sentia mais forte, menos vulnerável. O piano, que antes parecia ser uma responsabilidade, se tornou minha armadura, com a qual passei a lutar com entusiasmo.

Voltando a Tori...
As pessoas começaram a me dizer "Você É a Tori Amos! Conhece o trabalho dela?"
Eu respondia "Sim, eu sei quem é Tori Amos", mas eu não sabia. Para mim, Tori era mais uma cantora que estava na coletânea do Led Zeppelin. Eu achava que a comparação era só porque ela é ruiva ^^ Eu pensava "que coisa, eu não sou tão parecida assim, nem minha voz se parece com a dela". Admito que não tive a percepção de ir saber mais sobre Tori. A primeira coisa que eu descobriria se tivesse buscado, era a semelhança do meu trabalho com o dela (guardadas as proporções, eu sei que Tori está anos-luz à minha frente). Hoje, tendo ouvido mais o trabalho dela, tendo ficado amiga de várias dessas pessoas que foram tão simpáticas comigo nos meus primeiros shows e vieram me presentear com canções da Tori e com pedidos de que eu tocasse alguma coisa dela, fico sinceramente lisonjeada com a comparação.
Espero fazer jus, porque hoje sou uma fã assumida. Influências de Tori, ainda não tive em nenhuma música gravada.
"Influências" a gente nem sabe se aparecem ou não, e quando vão ficar claras em um trabalho.
Não pretendo ser Tori, nem imitá-la. Mas fico grata por ela existir, por ser uma referência fantástica, e por ter a alegria de continuar fazendo amigos nos meus shows que se aproximam de mim porque gostam dela.
[Escrevi isso hoje também como forma de agradecimento, e de contar a esses amigos como, graças a eles, conheci o trabalho de Tori Amos.]
Lucca Kosta

"Never was a cornflake girl"
;)
Escreva pra mim!
luccakosta@luccakosta.com
Nenhum comentário :
Postar um comentário