domingo, abril 20

Castigo na Biblioteca

Durante a minha adolescência, passei por alguns períodos conturbados. Deprimida, não estudava, nem saía do meu quarto. Mas, graças à minha super inteligência (hohoho), quando voltava à escola, bastavam dois meses e provas sobre qualquer assunto pra que eu recuperasse meu ano letivo. As faltas... bem... nas faltas a gente "dava um jeito" com o papai médico. Meu ensino médio foi todo assim.
Uma vez, cansada dos colégios opressores, resolvi me matricular em um desses caça-níqueis mesmo. Particular, de mensalidade baixa, no centro da cidade, aquele lugar era tudo menos uma escola. Os professores davam aulas para ninguém, pois ninguém prestava atenção. Até uma briga violenta em sala de aula eu presenciei.
Não vi como começou. Estava completamente distraída enquanto a professora de matemática falava com as paredes, quando vi um skinhead se levantar com os coturnos fazendo estrondos e se jogando em cima de um punk. Foi difícil separar aqueles dois, depois de tanto a professora pedir, aos gritos, que eles fossem contidos (se dependesse dos alunos, eles prefeririam ficar assistindo à briga e torcendo). Ao final, o skinhead se explicava chorando (isso mesmo!), e dizendo que o punk estava sendo grosseiro com uma menina (af, que gentleman)...
Eu achava divertido. Afinal, só precisava mesmo vir fazer as provas, que eram facílimas. Mas desisti do curso após a primeira prova de matemática, porque quase fiquei "de castigo" por nada. Logo eu, a pessoa mais bem-comportada daquele pardieiro.
Foi assim: no dia da prova, cheguei cedo, terminei a prova em dez minutos e fiquei aguardando para sair (ninguém pode sair após a permanência mínima de trinta minutos). Quando saí, resolvi ir fazer uma hora na biblioteca, pois estava chovendo lá fora e eu iria voltar pra casa de ônibus.
Quando cheguei à biblioteca, fui recebida por um professor-inspetor que, com as mãos na cintura, em posição de reprovação, me perguntou: "O que foi que você aprontou?"
Pensei que ele estava me confundindo com alguém, então, respondi: "Não aprontei nada, professor. Terminei uma prova e vim ler um pouco na biblioteca. Posso?"
Ele, meio sem-jeito, me deixou entrar. Foi quando percebi que todas as pessoas sentadas ali estavam "de castigo". Sim! Como em uma detenção. Tinham "aprontado" em sala de aula, e ficavam até o fim do horário na biblioteca, sob supervisão do professor-inspetor, fazendo... Nada!
Nem mesmo lendo, estudando... Nada mesmo!
Para isso servem as bibliotecas nos cursos caça-níqueis do centro da cidade!
:0
:S
:{
Desisti daquela escola.
Se eu não posso ir à biblioteca para ficar em paz, se a biblioteca não é um lugar para o conhecimento, então, ali não era o meu lugar.
Definitivamente.





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