
Mais uma vez, me desculpo por demorar a atualizar este blog. Pretendo voltar a postar diariamente. Se não for assim, por qual razão eu deveria mantê-lo?
Quero contar uma experiência interessante. Lembram que mencionei que voltei a ensinar teatro? Desta vez, para crianças. Sempre me frustrei muito em conseguir a atenção de um grupo de crianças. Quando se trata de apenas uma, eu consigo. Mais do que uma, é um desafio. Mais do que trinta é praticamente um pesadelo. Me sinto invisível, e um tanto ridícula. Depois de algumas tentativas frustradas de conseguir atenção do grupo, percebi que:
1) as crianças que estavam ali ansiosas pela aula de teatro não se importavam com as que estavam distraídas com outro assunto, sem nenhum interesse no que eu dizia ou fazia;
2) aquelas que corriam e gritavam pela sala não seriam convencidas a se juntarem às boas de nenhuma forma, nem pacífica, nem violenta;
3) todas as crianças contariam a seus pais o que acontecia na aula, da maneira que vivenciaram. Por exemplo: “a professora só ficou chamando a atenção do fulano e do beltrano que não paravam quietos”; “a aula foi boa, mas eu não entendia o que a professora falava porque a sala estava muito barulhenta”; “aula de teatro? Sim, gostei, foi como a hora do recreio. Professora? Que professora?”
Enfim, me dei conta que meu amadurecimento pessoal e artístico não melhorou um milímetro sequer a minha habilidade de lidar com esses pequenos seres.
Então, antes de pedir demissão apenas após duas semanas de trabalho, e levando em conta o lado bom da coisa (que foi o quanto me diverti com eles, quanto carinho recebi e como as aulas com grupos menores foram infinitamente mais bem aproveitadas), resolvi insistir uma vez mais.
Dirigi até a escolinha, rezando: “Menino Jesus de Praga, me ajuda a ter a atenção dessas crianças. Me diga como, porque eu não faço idéia do que vou fazer quando chegar lá.” Eu havia tentado de tudo. Música alegre, música tranqüila, hipnose, improvisação, jogos, tudo.
Cheguei à sala cinco minutos antes do horário e vi uma fita crepe colada no chão, dividindo a sala (que tem cerca de dez metros de comprimento) ao meio. Ainda meio absorta pelo clima de oração, tirei os sapatos e comecei a andar sobre a fita crepe, calmamente, tentando manter a linha reta – incrível como perdemos a coordenação motora quando estamos sob estresse. Então, a porta da sala se abriu, quando eu estava na metade do percurso.
Vi as crianças tirando seus sapatos e me observando, curiosas. Fiz sinal para que viessem atrás de mim. Dois minutos depois, estavam elas todas atrás de mim, andando em linha reta, descalças e em silêncio. Quando alguma delas tentava dizer alguma coisa, eu só fazia um sinal pedindo silêncio. Elas mesmas se repreendiam, sussurando: “Psh, é pra andar na linha”.
Missão cumprida. Consegui continuar a aula com todas elas em sintonia comigo e com o que eu propunha. Não deve ter sido a fita crepe. Foi o Menino Jesus de Praga.
Tomara que ele me ajude da próxima vez também.
That’s it.
Escreva pra mim!
luccakosta@luccakosta.com
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