
Minha mãe “desapareceu” num fim de semana recente. Culpa minha, em meio a tanto trabalho, tanta correria, não arranjei um tempinho nem mesmo para telefonar para ela. Então ela encontrou uma “amiga”, digamos... peculiar. Alguém muito diferente da minha mãe, que não tem aquele fino trato, raro e até meio besta – dependendo do ponto de vista. A amiga estava acompanhada do respectivo namorado, um músico de bar – com todo o respeito a essa classe de músicos, que dão um duro danado – e saíram juntos para se divertir. Minha mãe, tentando não ser um peixe fora d’água, travestiu-se, com a ajuda da “amiga”, em uma figura adolescente, de jeans e camiseta, tênis (acho que ela mesma nunca teve um par de tênis) e... boné! Minha mãe, de boné! :S
Quando veio me contar sobre o fim de semana, parecia ter se divertido. Não achei ruim até ela começar a entrar em detalhes. Os lugares onde tinha ido, a maneira como se comportou. O “namorado” da “amiga” deu a ela uma aula básica sobre trejeitos que ele considera “descolados”. Minha mãe tentou reproduzí-los para mim, mas, em plena quarta-feira, três dias após o término do fim de semana, ela já havia perdido toda a prática. Ela fazia um gestual que lembrava alguma tribo primitiva, jogava as mãos na minha direção resmungando alguma gíria parecida com “eehhh, locoooo!!!”... Minha mãe...
Estranhei tanto que mal conseguia disfarçar... Ela disse, quase magoada... “Luccaaa.. não me olhe assim... eu me diverti...” ao que respondi: “Tudo bem, a mãe é você, eu sou a filha” e ela riu, aliviada. Mas me fez pensar... sobre o que ela me dizia quando eu era criança “cuidado com as más companhias”... será que ela tinha razão? Ou será que houve uma inversão de papéis e ela quer ser aprovada por um grupo de pessoas que não deveriam, necessariamente, servir de referência, segundo o MEU ponto de vista? Perguntei, ainda, “mãe, as pessoas não acharam estranho você se comportar assim, vestir essas roupas, mascar chiclete...” Ela respondeu, desapontada: “Sim... as pessoas pareciam assustadas comigo.”
Mamma... Você me colocou nas aulas de piano, me mandou para o colégio de freiras... se eu aparecesse em casa depois de um fim de semana com chiclete na boca falando “eeehhhh, locooo!!” você me deixaria de castigo, lendo “O Pequeno Príncipe” em francês, e em voz alta. Mas você é minha mãe. Não é meu papel situá-la em algum contexto... Se bem que agora entendi a frase...
"A gente sai da Suíça, mas a Suíça não sai da gente..."
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