Eu ia e voltava de São Paulo todo fim de semana. De ônibus. Eram seis, às vezes oito horas de viagem. Estava trabalhando com uma companhia de dança-teatro. Mais uma vez, tentando continuar na arte, mas me recuperando de uma decepção na música. Uma banda que não tinha dado certo. Aliás, que acabou dando certo, mas sem mim. Eu parecia feliz. Eu devia estar feliz. Mas quando via as pessoas no palco, ao fim de cada espetáculo, felizes, realizadas, precisava forçar meu sorriso. Afinal, eu era uma das estrelas de um espetáculo lindo, e quase sempre era a que ganhava mais aplausos. Mas eu não estava feliz. Faltava alguma coisa. E quando pegava o ônibus para voltar, era sempre aquele vazio.Foi com um pequeno caderno que iniciei uma viagem de auto-descoberta. Escrevi na primeira página: "O QUE EU QUERO?" O caderno passou a ser meu companheiro de viagem. Eram seis horas ou oito horas, o que me dava um total de quase quinze horas toda semana, apenas para refletir. Refletir e anotar impressões, lampejos, vontades, ainda que pequenas. E depois juntar tudo, como se fosse um mosaico, para tentar formar o que sou hoje.
Encontrei o caderno hoje. Tudo o que escrevi ali me parece tão óbvio... Descreve exatamente o que sou, o que faço e como vivo minha música. Mas está no tempo futuro, improvável. Escrevi "quero a música outra vez", e ainda não tinha conseguido isso. Escrevi coisas que pareciam tão difíceis de realizar...
Precisei acreditar que aquele caderninho me salvaria. E me salvou. O auto-conhecimento é a chave para um futuro feliz. Sou feliz com minha música. Talvez tivesse desistido pra sempre, se não tivesse tentado respoder àquela simples pergunta: o que eu quero?
Ao saber o que queria, descobri quem sou de verdade.
E você? Já sabe o que quer? Tem certeza? Está realizado?
Quem é você?
Escreva pra mim!
luccakosta@luccakosta.com
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